A propósito do meu último artigo, em que abordei os 162 anos da publicação de O Livro dos Espíritos, através do seu lançamento em Paris, em 18 de abril de 1857 e, por via de consequência, o surgimento do espiritismo, uma senhora, via Facebook, me escreveu, deveras preocupada, com uma dúvida e uma preocupação. A dúvida se o espiritismo é a melhor religião. E a preocupação pelo fato de seu marido que, segundo ela, é um homem bom, não ser espírita, o que a faz sofrer. E no fim do seu relato, ela fez a tradicional pergunta de quem, perante qualquer problema, não sabe que atitude tomar: "O que eu faço?" Para equacionar essa questão, vamos utilizar a prerrogativa que somente nós, entre todos os seres da criação, temos, que é a capacidade de racionar de forma lógica e racional. Pois a essa senhora e tantas outras pessoas que possam sofrem por esse mesmo motivo, que é não ter o cônjuge professando a mesma fé religiosa, há que se considerar que se a quem amamos não pensa como nós, como acontece com essa senhora, há a possibilidade de que, no caso presente, quem mais esteja precisando de ajuda não seja o marido, e sim ela própria. As pessoas são como são. Não necessariamente elas precisam se enquadrar no mesmo nosso modo de pensar e agir. No caso da minha missivista que sofre por causa do fato do seu marido, diferentemente dela, não ser espírita, mas é um bom marido, deve não somente agradecer por ser um homem bom, mas aceitar a sua decisão de não cultuar a sua mesma crença pela simples razão de cada um, a sua maneira, se liga a Deus do seu modo, até porque Deus, infinito em todas as virtudes, não tem religião e nem tem preferência por nenhuma pelo simples fato de que ele é Deus.
Pertencer a uma religião não garante, necessariamente, melhoria nem avanço na escala evolutiva. Aliás, não é raro encontrar pessoas educadas, acolhedoras e amáveis dentro do templo religioso, seja ele qual for, mas com atitudes lamentáveis e reprováveis fora dele nos relacionamentos diários, seja no trabalho ou mesmo e, principalmente, em casa. Por isso, seja prudente e construa sua casa de sonhos sobre a rocha sólida da realidade e não perca nunca de vista que cada criatura é uma individualidade, tal qual um número primo, qual seja, divisível somente por ele mesmo, possuindo necessidades distintas das suas e interesses também diferentes dos seus. Não esqueça nunca que o respeito aos limites pessoais do outro é um guia seguro para a saúde das relações. Ninguém muda ninguém, apenas colabora com a mudança de quem deseja mudar e, para que essa mudança ocorra, não basta somente o seu desejo, mas, fundamentalmente, a vontade do outro. Estamos matriculados neste planeta-escola com o único propósito de aprender e, por conseguinte, evoluir na escala espiritual. E nesse currículo, as relações humanas são preciosas lições em que cada lição vem a seu tempo e no tempo certo. Reflita sobre isso!
Quanto ao outro questionamento, se o espiritismo é a melhor religião, valho-me de uma resposta de Dalai Lama, monge e líder espiritual do Tibete quando, em certa ocasião, ao ser perguntado exatamente sobre qual a melhor religião, ele respondeu, não do alto dos seus 84 anos, mas sim da sua sabedoria. Disse ele: "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor. É a que te faz mais compassivo, aquela que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável. A que conseguir fazer isso em ti é a melhor religião." Pois, através dessa resposta, cheia de sabedoria, respondo à senhora que me escreveu a propósito do seu marido que, apesar de não ser espírita como ela, é um homem bom, e a todas as outras pessoas que possam ter essa mesma preocupação. Não há religião mais certa ou menos certa, melhor ou pior. A religião mais correta, em verdade, é aquela que mais completa você no aspecto espiritual, é a que mais alivia as suas ansiedades e a que mais responde aos seus questionamentos. Por tudo isso, afirmo sem medo de errar que a melhor religião é a que mais faz você um ser humano melhor. Portanto, se você analisar a questão sem o facho da cegueira própria do fanatismo religioso, e sim com o mesmo discernimento e, se possível, adicionar à sua análise só uma pitadinha da sabedoria do líder tibetano a propósito de qual a melhor religião, não tem como não dar a mão à palmatória e chegar à seguinte conclusão: Dalai Lama tem razão!